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"Amigos de Deus", Sanjosemaría Escrivá de Balaguer

Sanjosemaría Escrivá de Balaguer, Monsenhor Escrivá, como era chamado o sacerdote espanhol, escritor finissimo, fundador da Opus Dei, canonizado por João Paulo II,  fala em suas homilias publicadas em "Amigos de Deus" e "É Cristo que passa", que a soberba é um vício muito mais grave que o da carne. "Porque este vício, uma vez arraigado, influi em toda a existência do homem, até se converter no que São João chama a superba vitae, a soberba da vida". ("Amigos de Deus"; Edições QUADRANTE; pg 76, 99:"A soberba, o inimigo)

"Esse é o pecado capital que conduz ao endeusamento mau. A soberba leva-nos a seguir - mesmo nas questões mais triviais - a insinuação apresentada por Satanás aos nossos primeiros pais: "Abrir-se-ão os vossos olhos e vó sereis como Deus, conhecedores do bem e do mal". Lê-se também nas Escrituras que o princípio da soberba é afastar-se de Deus. Porque este vício, uma vez arraigado, influi em toda a existência do homem, até se converter no que São João chama a superbia vitae, a soberba da vida" (I João II,16)

Soberba? De quê? A Escritura Santa estigmatiza a soberba com acentos trágicos e cômicos ao mesmo tempo: - "De que te ensoberbeces, pó e cinza? Já em vida vomitas as entranhas. Uma ligeira doença, e o médico sorri: o homem que é rei amanhã estará morto". (Eclesiástico, 10,9) 

Quando o orgulho se apossa da alma, não é de estranhar que venham atrás todos os vícios, como que em fila: a avareza, as intemperanças, a inveja, a injustiça. O soberbo tenta inutilmente destronar Deus - que é misericordioso para com todas as criaturas - , a fim de se instalar ele no sólio divino, ele que atua com entranhas de crueldade. 

Temos que pedir ao Senhor que não nos deixe cair nesta tentação. A soberba é o pior e mais ridículo dos pecados. Se consegue atazanar alguém com suas múltiplas alucinações, a pessoa atacada veste-se de aparência, enche-se de vazio, empertiga-se como o sapo da fábula, que inchava o bucho, presunçosamente, até que explodiu. A soberba é desagradável, mesmo humanamente: quem se considera superior a todos e a tudo, está continuamente contemplando-se a si próprio e desprezando os outros, e estes correspondem-lhe escarnecendo de sua vã fatuidade.   

Ouvimos falar de soberba, e talvez imaginemos uma conduta despótica, avassaladora: grandes ruídos de vozes que aclamam, e o triunfador que passa, como um imperador romano, debaixo dos altos arcos, fazendo menção de inclinar a cabeça, porque teme que a sua fronte gloriosa toque o branco mármore. 

Sejamos realistas: essa soberba só tem lugar numa imaginação tresloucada. Nós temos que lutar contra outras formas mais sutis, mais frequentes: o orgulho de preferir a excelência própria à dos outros; a vaidade nas conversas, nos pensamentos e nos gestos; uma suscetibilidade quase enfermiça, que se sente ofendida com palavras e ações que de modo algum significam um agravo.  

Tudo isto é que pode ser e é uma tentação comum. O homem considera-se a si próprio como o sol e o centro dos que estão ao seu redor. Tudo deve girar em torno dele. E, com a sua preocupação mórbida, não raramente recorre até á simulação da dor, da tristeza e da doença: para que os outros cuidem dele e o mimem. 

A maioria dos conflitos em que se debate a vida interior de muita gente é fabricada pela imaginação: é que disseram ..., é que podem pensar..., é que não me consideram... E essa pobre alma sofre, pela sua triste fatuidade, com suspeitas que não são reais. Nessa aventura infeliz, a sua amargura é contínua, e procura produzir desassossego nos outros: porque não sabe ser humilde, porque não aprendeu a a esquecer-se de si própria para se dar generosamente ao serviço dos outros por amor a Deus". 

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Mais adiante, no capitulo "A Relação com Deus", Sanjosemaría fala-nos de uma atitude profunda da alma que pode nos restaurar um brio novo em nosso esforço diário por nos aproximarmos do Senhor, desde que a soberba não nos impeça :

" ... existe uma grande diferença entre uma criança e uma pessoa mais velha, quando caem. Para as crianças, a queda geralmente não tem importância: tropeçam com tanta frequência!

Vede, porém, o que acontece quando quem perde o equilíbrio e cai de bruços ao chão é um homem adulto. Se não fosse pela compaixão, provocaria riso. 

Na vida interior, a todos nos convém ser quasi modo genitiinfantes, como crianças recém-nascidas, que até se divertem com os seus tombos, porque logo se põem de pé e continuam com as suas correrias; e porque também não lhes falta - quando é necessário - o consolo de seus pais.   

Se procurarmos comportar-nos como eles, os tropeções e fracassos na vida interior - aliás, inevitáveis - nunca desembocarão na amargura. Reagiremos com dor, mas sem desânimo e com um sorriso que brota, como água límpida, da alegria da nossa condição de filhos desse Amor, dessa grandeza, dessa sabedoria infinita, dessa misericórdia que é o nosso Pai. Durante meus anos de serviço ao Senhor, aprendi a ser filho pequeno de Deus. E o mesmo peço a todos vós: que sejais quasimodo geniti infantes, como crianças recém-nascidas, crianças que desejam a palavra de Deus, o alimento de Deus, a fortaleza de Deus, para se comportarem no futuro como homens cristãos.

Sede muito crianças! E quanto mais, melhor. É o que vos diz a experiência deste sacerdote, que teve que levantar-se muitas vezes ao longo destes trinta e seis anos, em que vem procurando cumprir uma vontade precisa de Deus. Uma coisa me ajudou sempre: continuar a ser criança e meter-me continuamente no regaço de minha Mãe e no Coração de Cristo, meu Senhor.

As grandes quedas, as que causam sérios estragos na alma, e algumas vezes com resultados quase irremediáveis, procedem sempre da soberba de nos julgarmos pessoas crescidas, auto-suficientes. Nesses casos, predomina na pessoa uma espécie de incapacidade para pedir assistência a quem a pode proporcionar: não apenas a Deus, mas também ao amigo, ao sacerdote. E aquela pobre alma, isolada na sua desgraça, afunda-se na desorientação, no descaminho.

Supliquemos a Deus, agora mesmo, que jamais permita que nos sintamos satisfeitos, que aumente sempre em nós a ânsia do seu auxílio, a sua palavra, do seu Pão, do seu consolo, da sua fortaleza: rationabile, sine dolo lac concupiscite, desejai ardentemente o leite do espírito, sem mistura de fraude: fomentai a fome, a aspiração de ser como crianças. Convencei-vos de que é a melhor forma de vencer a soberba. Persuadi-vos de que é o único remédio para que a nossa conduta seja boa, seja grande, seja divina. "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e vos tornardes como meninos, não entrareis no reino dos céus". (Mateus 18:3)   

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