O Rito da Paz é um ritual da missa, que pode, por vezes, contrastar com a dignidade e decoro da cerimônia. Para reforçar a dignidade e importância deste ato, o Vaticano está contemplando alterações à forma como o rito é realizado.
O que se deseja com as alterações é uma compreensão mais profunda do significado cristão de paz e de sua expressão na celebração litúrgica.
Nesta carta circular da CONGREGAÇÃO PARA O CULTO DIVINO E A DISCIPLINA DOS SACRAMENTOS todos são instruídos sobre os modos corretos do sinal da paz colocado antes da Comunhão.
Entre as recomendações lemos que:
"De todos os modos, será necessário que no momento de dar-se a paz se evitem alguns abusos tais como:
- A introdução de um "canto para a paz", inexistente no Rito romano .
- Os deslocamentos dos fiéis para trocar a paz.
- Que o sacerdote abandone o altar para dar a paz a alguns fiéis."
Leia a carta completa aqui:
https://domvob.files.wordpress.com/2014/08/o-significado-ritual-do-...
Há um ano atrás já explicava o Padre Paulo Ricardo:
O chamado "canto da paz" não é litúrgico, porém, é necessário justificar essa resposta simples. Este canto faria parte de um rito inserido na Missa, ou seja, dentro do "rito da paz", o qual está presente dentro da legislação da Igreja, mais precisamente no número 82, da Instrução Geral do Missal Romano.
O rito da paz é composto de uma parte obrigatória e outra facultativa. A parte obrigatória é a oração do sacerdote - e somente dele - que diz:
Senhor Jesus Cristo, que dissestes aos vossos Apóstolos: eu vos deixo a paz, eu vos dou a minha paz: não olheis aos nossos pecados, mas à fé da vossa Igreja e dai-lhe a união e a paz, segundo a vossa vontade, Vós que sois Deus com o Pai, na unidade do Espírito Santo.
Domine Iesu Christe, qui dixisti Apóstolis tuis: Pacem relinquo vobis, pacem meam do vobis: ne respicias peccata nostra, sed fidem Ecclesiæ tuæ; eamque secundum voluntatem tuam pacificare et coadunare digneris. Qui vivis et regnas in saecula saeculorum.
Esta oração é obrigatória e constitui o núcleo do rito da paz. A Instrução Geral do Missal Romano diz: "Segue-se o rito da paz, no qual a Igreja implora a paz e a unidade para si própria e para toda a família humana, e os féis exprimem uns aos outros a comunhão eclesial e a caridade mútua, antes de comungarem no Sacramento." Ora, essa expressão dos fiéis de comunhão eclesial e caridade mútua é que é facultativa.
O missal "Ordinário da Missa com o Povo", em seu número 128 diz: "deinde, pro opportunitate, diaconus vels sacerdos, subungit: offerte vobis pacem", ou seja, se for oportuno, o diácono ou o próprio sacerdote pedem que se deem um ao outro o sinal de paz.
Esse gesto é facultativo, segundo o missal, porque a oferta da paz já aconteceu quando o sacerdote, olhando para a assembleia, disse: "Pax Domini sit semper vobiscum" (a paz do Senhor esteja sempre convosco). E o povo respondeu: "Et cum spiritu tuo" (o amor de Cristo nos uniu). Deste modo, o padre já significou o abraço da paz de forma coletiva.
O fato de o abraço da paz não ser obrigatório pode causar estranheza, porém, é o Missal quem assim define. Ele é facultativo. Cabe ao sacerdote julgar se, naquela circunstância, a comunidade pode ou não expressar a caridade e a comunhão eclesial por meio do sinal da paz. O abraço nada mais é do que uma expressão, um sinal de uma paz que já estava lá, que já fora desejada pelo sacerdote, recebida pelas pessoas.
Expressar a paz não é algo sem lei, que pode ser feito de qualquer modo. Quanto a isso a Instrução Geral do Missal Romano diz:
"Quanto ao próprio sinal com que se dá a paz, as Conferências Episcopais determinarão como se há de fazer, tendo em conta a mentalidade e os costumes dos povos. Mas é conveniente que cada um dê a paz com sobriedade apenas aos que estão mais perto de si."
Portanto, está bem claro que esse momento não é de congraçamento, de festa, de reconciliação. Isso se dá pelo simples fato de que esse momento antecede ao da comunhão, ou seja, não é oportuno que as pessoas se dispersem. Da mesma forma, como o sacerdote está tocando as espécies eucarísticas, não é oportuno que ele se congrace com as pessoas. É por isso que no rito romano, é previsto apenas um leve toque, algo que pontue que se trata realmente de um rito, de um abraço ritual.
A sobriedade, que é prevista pela legislação do missal, deve expressar a realidade interior, ou seja, a preparação para receber a comunhão, o Cristo que é a fonte de toda paz. Trata-se de um momento cristocêntrico, por isso, a comunidade não deve tomar o lugar de Cristo.
O Cardeal Joseph Ratzinger, em sua obra "Introdução ao espírito da liturgia" alerta para o fato de que a maneira pela qual o Missal de Paulo VI está sendo vivido denota um certo antropocentrismo, ou seja, é o homem, a comunidade no centro, e não Cristo.
Assim, o canto da paz não é necessário. Primeiro, porque não é absolutamente previsto na legislação litúrgica. Segundo, porque a própria natureza das coisas impede que ele exista, pois, se a saudação é um "sinal ritual" não há necessidade de uma música que o acompanhe.
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Ótima postagem!!
Obrigada, em nossas comunidades cantamos e saldamos uns aos outros, não para sermos maiores que Cristo mas para termos a unidade cristã de todos que estão na igreja.
É um assunto muito delicado! Qualquer mudança tem que ser muito bem analisada antes de ser concretizada!
Muito bem colocado! Eu não concordo com muitas novas teorias adotadas, pela Igreja, de uns tempos para cá. Acho que se perderam, querendo imitar os protestantes, ao eu ver, porque estavam perdendo fiéis, ou melhor "Não Fiéis", e sendo assim, sempre achei que deveria continuar como eu sempre vi, desde pequena nas missas. Para mim, prece, é silêncio, e os atos, e rituais dos padres antigos, são os que me agradam mais.
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